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Discussão Online #BirdBoxChallenge: Reflete uma ameaça real ou tentativa de Marketing?
Date
11-01-2019
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O fenómeno da influência gerada pelo mundo digital, através de diferentes plataformas online como o Netflix, Youtube, entre outras, passou a fazer parte das preocupações associadas aos riscos online.

Recentemente, a Netflix lançou o filme “Bird Box” (em Português “Às Cegas”), um filme de suspense, baseado no livro com o mesmo título, onde o espetador acompanha o percurso de uma personagem que tenta sobreviver a um cenário pós-apocalíptico em que criaturas sombrias controlam a mente dos humanos, levando-os a cometer suicídio. A única forma de sobreviver a esta ameaça é garantir que, em nenhum momento, se estabelece contacto visual com estas criaturas.

Embora contenha algumas cenas violentas, não é sobre o filme que o CIS pretende alertar, mas sim sobre o fenómeno gerado pelo mesmo e pela consequente discussão desta temática nos media. Reportando-nos a artigos lançados pelo The Guardian e pelo Observador, entre outros, o filme deu origem a um desafio que se massificou nas redes sociais e que consiste na gravação de vídeos enquanto se realizam atividades diárias com os olhos vendados.

Um dos principais grupos de impulsionadores deste #BirdBoxChallenge foram os Youtubers que tornaram estes desafios num fenómeno, aparentemente, viral. O que muitos utilizadores percecionam como vídeos divertidos podem, no entanto, estimular a adoção de comportamentos potencialmente perigosos, não só para quem os pratica mas também para as pessoas à sua volta como, por exemplo, a prática de conduzir um carro de olhos vendados, utilizando apenas os sensores de obstáculos do veículo. Estes vídeos podem, de facto, potenciar um fenómeno de contágio em que utilizadores replicam os comportamentos ilustrados nestes vídeos.

Esta questão tornou-se, alegadamente, tão visível e/ou preocupante que levou a própria Netflix a publicar um Tweet com a seguinte mensagem: “Não consigo acreditar que tenha de dizer isto, mas: POR FAVOR, NÃO SE MAGOEM COM ESTE BIRD BOX CHALLENGE. Nós não sabemos como é que isto começou, e estamos gratos pelo amor demonstrado, mas o Boy and Girl (personagens do filme) têm apenas um desejo para 2019 e é que vocês não terminem no hospital devido a memes.” (Tradução do Tweet publicado no dia 2 de janeiro de 2019 às 18H03)

Em paralelo a este fenómeno, artigos desenvolvidos por alguns media e mesmo os memes mencionados neste tweet atuam como massificadores destes comportamentos e, consequentemente, como promotores do filme. Criados com o objetivo de captar a atenção, alguns dos conteúdos e títulos estão pensados para levar os utilizadores a clicarem em notícias “chocantes” e acederem a conteúdos sem se questionarem sobre a veracidade da informação publicada online, contribuindo, não só, para o fenómeno de “clickbait mas também para o aumento de visualizações do filme e para o potencial fenómeno de contágio.

Assim, observamos este fenómeno considerando diferentes perspetivas: por um lado, o filme é publicitado segundo os tradicionais canais de publicidade offline e online. Por outro, vários produtores de conteúdos online, incentivados pelo filme e pelo número de visualizações que podem obter, criam vídeos em que realizam atividades que podem acarretar riscos e gerar potencialmente uma onda de contágio deste desafio. Esta situação dá origem a que diferentes media online e a própria Netflix divulguem mensagens de “alerta” que, com ou sem essa intenção, estimulam a visualização destes vídeos de desafios e, inevitavelmente, do filme, contribuindo para o aumento de visualizações da plataforma de streaming em questão.

Com este artigo o CIS pretende promover uma reflexão sobre até que ponto estes desafios refletem reais ameaças para a sociedade, ou se, por outro lado, estes estão a ser utilizados como ferramentas para “clickbait” e promoção à visualização de conteúdos da plataforma de streaming online. Recomendamos que se mantenha atento a títulos e publicações mediáticas e que analise se estes pretendem contribuir pedagogicamente para a redução de um problema ou, pelo contrário, apenas continuar a estimular o consumo de conteúdos online que expõem práticas potencialmente perigosas.

 

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